"O pior dilema do prisioneiro está em duvidar de sua inocência e de sua culpa", diz o narrador de Espiral de artilharia, um médico que passa os dias numa prisão-sanatório rememorando os eventos que o levaram até ali. A trajetória pessoal do protagonista, um homem marcado por um incidente de juventude e pelo vício numa droga injetável, passa pela complexa situação política de seu país, dividido entre uma ditadura feroz, já em declínio, e um movimento revolucionário cujas origens e ações são difusas e misteriosas. Da relação do narrador com um dos delegados da repressão, com as moradoras do bordel de um porto longínquo e com um jornalista que investiga o naufrágio de um submarino, fatos que ele descreve em camadas que se contradizem e se iluminam, nasce uma trama original e surpreendente sobre identidade e destino. Segundo Ignacio Padilla, Espiral de artilharia tem o formato de um romance policial. "Mas aqui não importa quem é o morto nem quem o matou. Interessa é saber quem o ressuscitou e por que o fez". Perguntas que não têm respostas fáceis: o autor as maneja por meio das ambigüidades da memória, das mentiras que se tornam verdades, mudando a natureza dos indivíduos à medida que a História desenvolve sua marcha irrefreável.