Poucas, raras coisas escapavam ao interesse de Octavio Paz. Sua mente incansável, prodigiosa, captava e reelaborava tudo ao seu redor, e nesse contexto não lhe foram alheios os mistérios, gozos e dores do erotismo. Este quase sempre em confronto com o amor, dilema e ambiguidade existencial por ele denominada de "a dupla chama".
Ainda muito jovem, em Paris, Paz se sentiu atraído pelo pensamento peculiar do marquês de Sade em relação ao sexo. Desde então, em diferentes etapas de sua vida criativa, escreveu ensaios analisando o homem e sua obra. Sempre procurando, como vemos nos textos deste livro, ir mais além da imagem popular de Sade e suas idéias vulgarizadas pela literatura e o cinema, que o apresentam como um pobre monstro devasso, só preocupado com o prazer sexual exacerbado pelo sofrimento físico.
Paz mostra as bizarras sutilezas do pensamento de Sade, "um filósofo libertino" obcecado por suas idéias de prazer e dor, sim, mas sobretudo autor de uma longa invectiva contra a espécie humana, ao mesmo tempo "uma tentativa para despertá-la e dissipar os enganos que nublam seu entendimento". Sade via na civilização a origem dos nossos males. Denuncia a imoralidade do Estado, mas nao reprova a dos indivíduos. Propoe, em resumo, "a substituição do crime público (a civilização) pelo crime privado".
Wladir Dupont
* Esta contraportada corresponde a la edición de 1999. La Enciclopedia de la literatura en México no se hace responsable de los contenidos y puntos de vista vertidos en ella.