Uma cruel leitura da vida privada e pública – é o que propõe Carlos Fuentes, um dos mais importantes escritores contemporâneos, nesta coletânea de contos, ironicamente intitulada Todas as famílias felizes. Neste lançamento da Rocco, o renomado autor mexicano mostra em 16 histórias os diferentes retratos de família e as suas dinâmicas únicas. As tramas têm como cenário a Cidade do México num período que abrange desde meados do século XX, mostrando seu lado ainda tímido e um tanto rural, até os anos 2000, quando assume a pecha de modernidade e caos típicos de uma megalópole. Palcos passados e presentes para os espetáculos de vida e morte.
Fuentes aponta nestes contos os diferentes aspectos de família e as suas dinâmicas únicas. Vida e morte se entretecem em laços que, por mais que se queira, jamais serão rompidos. No conto de abertura “Uma família entre tantas”, pai, mãe, filho e filha retratam suas relações dentro de suas próprias perspectivas: o pai fracassado que quer se reaproximar do filho; o filho que não quer ser igual ao pai, mas está fadado a trilhar o mesmo caminho; a mãe saudosa da época em que o marido era o homem por quem se apaixonara; a filha que escolheu interagir com o mundo por meio da comunicação virtual.
Em “O filho desobediente”, um pai quer que seus quatro filhos tornem-se sacerdotes, mas um deles tem planos muito diferentes. Em “Uma prima sem graça”, uma parente considerada encalhada e assexuada abala um casamento ao mostrar furor sexual e despertar a paixão do dono da casa. Já em “Mãe dolorosa”, a mãe do título troca cartas com o assassino de sua filha, buscando uma explicação para tamanha violência.
As histórias têm como cenário a Cidade do México num período que abrange desde meados do século XX, mostrando uma cidade ainda tímida e um tanto rural, até os anos 2000, uma moderna e caótica megalópole. E suas famílias, muitas e muitas, afetadas de forma irremediável pela ignorância, pela violência e pela dor, não importa a época ou sua composição – da formação tradicional de papai e mamãe até a homoafetiva.
Os contos são intercalados por coros – historietas que contam situações trágicas, em muitas delas, e bem-humoradas, em poucas. O coral dá à narrativa um aspecto polifônico e mantém viva a história, transmitida de voz em voz, até parar no ouvido de algum destinatário distante.