Periferia, favela, quebrada… onde se concentra a classe trabalhadora que faz funcionarem as cidades; os excluídos, os marginalizados, as pernas e os braços ignorados de um dos países com a maior desigualdade do mundo. As perifas se estendem em espaços a perder de vista em volta das cidades, caótico emaranhado de casas barracos malocas com ruas becos vielas malcheirosas que abrigam os sonhos e a correria das crianças, na teimosia de empinar pipa, fazer traquinagens, brincar de esconde-esconde com as balas perdidas e, às vezes, segurar arma na fantasia de ser...
É nesses espaços que, desde a virada do século, vem se desenvolvendo um insólito movimento literário, combativo, rebelde, criativo: uma profusão inusitada de obras de autores oriundos das periferias urbanas, favelas e prisões, com forte vínculo a iniciativas culturais, políticas e sociais autônomas e antissistêmicas.
O escritor e ativista mexicano Alejandro Reyes, com uma obra também voltada para a marginalidade, faz uma análise literária e política deste movimento, alimentada pelas experiências do movimento zapatista e de outros movimentos latino-americanos. Embora o livro seja produto de um trabalho de doutorado na Universidade da Califórnia, as inquietações que movem a obra, mais que as do intelectual, são as do ativista e as do escritor: “A intenção é contribuir para pensarmos juntos — escritores, ativistas, sonhadores das perifas múltiplas do nosso mundo — como construir alternativas neste momento de crise global”.
Chegou. A obra que desfruta e questiona nossos textos com profundidade, despreocupada em agradar. Aqui está um doutorado em Berkeley escrito em português balançado, fluente, nítido na ponteira, na rasteira e na gana por mudanças com sustança.
- Allan da Rosa, Edições Toró
O livro de Alejandro Reyes é muito bem-vindo, para que não esqueçamos que o Brasil produz sim literatura marginal direto dos guetos.
- Ferréz, 1daSul
Vozes dos Porões sequestra-me pelo cuidado histórico e desenvoltura crítica no trato do que chamo Literaturas Divergentes. Bem-vindos, enfim, ao estudo das estéticas das poéticas das periferias. Laroye!
- Nelson Maca, Coletivo Blackitude